VEÍCULOS BLINDADOS DO PAIGC (II)
BEDANDA
De entre as descrições dos ataques
efetuados pelo PAIGC que assinalam o uso de viaturas blindadas e que
apresentam mais citações e pormenores está o efetuado a Bedanda.
António Graça de
Abreu, antigo Alf Mil, CAOP 1, no seu "Diário da Guiné", diz deste o seguinte:
"Cufar,
3 de Abril de 1974
A guerra
está feia. Bedanda (em 31
de março de 1974) embrulhou
durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A
festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos
homens do PAIGC.
Uma
novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a
Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacri, passa junto a Guileje -
abandonada pela tropa portuguesa, - entra pela região do Cantanhez e termina em
Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados
com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos
portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque,
Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém."
Bibliografia: Abreu, António Graça de (2007). Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água
Pura. Lisboa. Guerra e Paz Editores SA
Um texto de
Carlos Fortunato antigo Fur Mil da CCaç 13 refere também o violento ataque do
PAIGC a Bedanda, utilizando viaturas blindadas BTR-152.
Webgrafia: http://historiaguine.com.sapo.pt/
BTR-152 |
No livro de
Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes sobre a guerra colonial, é feita
referência ao uso de viaturas a Norte e Sul do território:
(...)
"Em Fevereiro de 1974, foram referenciadas viaturas pesadas para rebocar
morteiros de 120 mm no Norte da Guiné, zona de Canquelifá, junto à fronteira
com o Senegal. Dias mais tarde foram detectadas em ataque à guarnição
portuguesa de Bedanda, no Interior-Sul do território, viaturas blindadas
provavelmente BRDM, BTR, PT-76 ou PT-34, todas de origem soviética."
Bibliografia: Afonso, Aniceto. Gomes, Carlos de Matos (s/data). Guerra Colonial:
Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa. Diário de Notícias.
BRDM-1 |
BRDM-2 |
BTR-40 |
PT-76 |
T-34 |
Outra obra dos mesmos autores inclui igualmente várias referências sobre o mesmo tema:
"Dezembro, 31 (1972)
Em documento oficial, o Comando militar português previa a utilização, pelo
PAIGC, de (...) viatura anfíbia PT-76, viatura blindada BTR-40 e carros de
combate T-34, aumentando substancialmente o seu potencial de combate."
"Maio, 22 (1973)
Notícia da DGS referindo que o PAIGC tinha em Simbeli (Guiné-Conacri)
viaturas blindadas para serem utilizadas contra Guileje, Gadamael e Bedanda. Algumas
destas viaturas foram mais tarde referenciadas em Bedanda."
"Março, 31 (1974)
Violento ataque do PAIGC à guarnição militar portuguesa de Bedanda,
com utilização de viaturas blindadas.
O PAIGC atacou Bedanda com morteiros de 120mm, RPG-2 e RPG-7, armas
automáticas e outras pesadas montadas em duas viaturas blindadas tipo
autometralhadora. O ataque durou cerca de duas horas e meia e causou dois
mortos à população e elevados prejuízos materiais no aquartelamento e na
povoação."
Outra referência diz:
"Abril, 10 (1974)
Referenciadas viaturas blindadas do PAIGC (...).
O Comando militar português assinalava no seu relatório que o inimigo vinha
orientando o seu esforço para a zona Sul, onde continuava a revelar
elevado potencial de combate, do qual ressaltava o emprego de viaturas
blindadas, o que fazia pela primeira vez no interior do território. As viaturas
blindadas foram detectadas num ataque a Bedanda no sul da Guiné."
Bibliografia: Afonso, Aniceto. Gomes, Carlos de Matos (2009). Os Anos da Guerra Colonial: Vols 13-14-15-16. Lisboa. QuidNovi.
Também
Fernando Policarpo oficial do Exército e que foi Alf da 2.ª CCaç do BCaç 4514,
no CTIG, referencia no seu livro "A Guerra da Guiné 1963/1974":
"O aldeamento/aquartelamento de Bedanda situava-se nas margens do rio Cumbijã. Era uma das principais praças do Sul. Em Março de 1974, o PAIGC planeou um ataque em duas fases: na primeira fase, o aquartelamento foi bombardeado durante 24 horas por foguetões de 122 mm, a espaços irregulares, tendo sido registados cerca de 122 impactos; na segunda fase, verificou-se o assalto à vedação do aquartelamento, realizado, pela primeira vez, com arma pesadas montadas em viaturas. Bedanda conseguiu resistir e manter a posse da posição."
Bibliografia: Policarpo, Fernando (2010). A Guerra da Guiné 1963/1974. Lisboa. QuidNovi.
Segundo
estes diferentes testemunhos, o uso de viaturas blindadas ou mesmo carros de combate pelo PAIGC foi uma
realidade, sobretudo a Leste e Sul do
território. Surgindo ainda referenciados em Kandiafara, Kambera e Kaorone/Sofa e prevista a sua utilização contra Gadamael, Boé e Buruntuma/Canquelifá.
O ano de 1973 representou uma viragem na evolução da guerra, e em que este tipo de viaturas passavam a ganhar protagonismo na manobra do IN.
O ano de 1973 representou uma viragem na evolução da guerra, e em que este tipo de viaturas passavam a ganhar protagonismo na manobra do IN.
Expressões
como: “súbito agravamento”; “previsão da sua continuidade a ritmo mais
acelerado”; “precariedade dos meios actuais”. Surgem num documento importante
para aquilatar desta e de outras realidades que enfrentavam as chefias militares e por
consequência as NT. Sublinhando a necessidade de responder com novos meios ao surgimento e uso deste novo armamento, de caráter mais convencional, por parte do PAIGC.
A “Acta da Reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973”. Documento
“Muito Secreto” do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, diz no seu “Anexo B” de “Análise das Incidências da Actual Situação do Inimigo na Manobra
Militar”,ponto 3, alínea h refere da necessidade de:
“Dotar os Erec e Pelrec existentes com
viaturas blindadas de reconhecimento e de transporte de pessoal mais
eficientes, e reforçar o T.O. com 2 ERec para protecção das colunas de
reabastecimento e das reservas durante os seus deslocamentos.”
Reafirmando a aplicabilidade e importância desta arma no contexto do conflito.
Por
sua vez o ponto 5, alertava para o cenário que se colocava às NF:
“A
ameaça de utilização, pelo In, de carros de combate, mesmo em acções de
reduzida amplitude, em golpes-de-mão sobre as guarnições mais isoladas da
fronteira, aconselha a, desde já, dotar, pelo menos as guarnições indicadas pela Repartição de Informações como
mais susceptíveis de ataques deste tipo, de meios que permita sua defesa
anti-carro. Com o armamento que possuem e com o pessoal treinado para o tipo de
guerra que temos enfrentado até ao presente, as guarnições apresentam-se
impotentes e inaptas para fazer face à nova ameaça. As necessidades em
subunidades adaptadas à luta anti-carro são, como é óbvio, dependentes do tipo
e eficiência do material com que forem equipadas.”
Webgrafia: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/documenta%C3%A7%C3%A3o
Mas na realidade, no terreno, para as unidades que se confrontaram com essa nova arma, não era conclusivo qual o tipo de viaturas blindadas utilizadas pelo PAIGC, nem o universo da sua missão. Do mesmo modo que eram quase inexistentes os meios para se oporem.
Mas na realidade, no terreno, para as unidades que se confrontaram com essa nova arma, não era conclusivo qual o tipo de viaturas blindadas utilizadas pelo PAIGC, nem o universo da sua missão. Do mesmo modo que eram quase inexistentes os meios para se oporem.
Pelo contrário, o primórdio do uso de viaturas blindadas ligeiras no conflito é das NT e ocorre desde o seu início, através de PRec e ERec, tendo como missão a escolta a colunas, patrulhamento de itinerários, proteção a trabalhos, etc.
Eram unidades equipadas com Fox, Daimler e White (viaturas remanescentes da II Guerra Mundial). E outras com viaturas mais conformes ou atuais, como a AML Panhard e a Chaimite, podendo, sobretudo a primeira, dado estar equipada com um morteiro 60 que podia fazer tiro tenso, opor-se a alguns dos veículos blindados do IN, mas sendo o seu número reduzido ao tempo (1973), para a envolvente operacional em causa.
Embora as condições de operação fossem condicionadas por diversos fatores adversos (naturais, mecânicos, logísticos…). A utilização destes veículos sempre se destacou por um elevado grau de desempenho operacional, superando muitas das condicionantes, o que muito se deveu à abnegação das suas tripulações e ao esforço dos mecânicos na sua manutenção.
Algumas destas unidades mantiveram a sua operacionalidade até ao final do conflito, garantindo o cumprimento da sua missão, que beneficiou também da abertura de novos itinerários, leia-se estradas, onde estes blindados ligeiros, nomeadamente os dois últimos, podiam ser mais efetivos operacionalmente.
Outra
bibliografia:
Silva, Francisco Henrique da. Santos, Mário Beja (2014).
Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro. Porto. Fronteira do Caos
Editores.
NOVOS DADOS
Num artigo publicado no blogue "Rodas de Viriato", com o título "Blindados BRDM-2 pós Chaimite e Berliet Tramagal - Filme de Cerimónia na Guiné", surgem alguns fotogramas, de que reproduzimos dois, que mostram viaturas blindadas BRDM-2 do PAIGC.
Webgrafia:
https://rodasdeviriato.blogspot.pt/search/label/Bravia
Numa reportagem apresentada pela SIC, sobre o PAIGC, surge, igualmente, uma viatura blindada BRDM-2.
BRDM-2 |
Mas entre os poucos ou mesmo únicos documentos fotográficos conhecidos, que mostram viaturas blindadas do PAIGC, com a particularidade da presença de militares portugueses. Estão as fotos gentilmente cedidas por Amílcar Ventura, antigo Fur Mil da
1.ª CCav do BCav 8323/73 estacionado em Bajocunda, entre 1973/1974, obtidas em
Pirada durante uma reunião de oficiais portugueses e guineenses, já depois do 25
de Abril.
Também interessante para um melhor conhecimento do tipo e número de veículos blindados de que o PAIGC dispôs desde a luta armada. É o artigo publicado em 2012, por Clavis Prophetarum, sobre as Forças Armadas da Guiné-Bissau.
O autor identifica, em concreto os T-34, como remanescentes do conflito, que aliás surgem em referências anteriores, como viaturas iniciais.
Webgrafia:
http://movv.org/2012/04/16/estado-das-forcas-armadas-da-guine-bissau-exercito-marinha-e-forca-aerea/
Webgrafia:
http://movv.org/2012/04/16/estado-das-forcas-armadas-da-guine-bissau-exercito-marinha-e-forca-aerea/
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