OS NOSSOS CAMARADAS DE ABRIL
Abril de 1974 trouxe consigo profundas alterações da realidade sócio política portuguesa, pondo igualmente fim ao conflito militar que ao longo de mais de uma dezena de anos Portugal manteve nas então designadas províncias ultramarinas, dando autonomia a esses territórios.
Alguns dos protagonistas diretos do golpe militar que proporcionou essa mudança, passaram pelo "Esquadrão de Bula", na sua última comissão de serviço.
Muitos foram os intervenientes na operação "Fim-Regime", com maior ou menor protagonismo no desencadear desse processo. Mas apesar disso, poucos foram os que não tiveram a humildade de não se considerarem "donos" da revolução que protagonizaram.
Na realidade, todos os elementos das Forças Armadas desse tempo, de modo consciente ou não, contribuíram para efetivar essa mudança. Perante os momentos de tensão que poderiam ter posto em causa o objetivo do golpe, imperou o crer e o bom senso, e mesmo os que se lhe opunham, na sua quase generalidade, souberam ponderar as consequências e tomar decisões de consenso.
Mas falemos do 25 de Abril, que na Guiné apenas ocorreu no dia seguinte e dos que intervieram nesse primeiro momento, para quem o "Esquadrão de Bula" teve particular significado e a quem designamos pelos Nossos Camaradas de Abril.
Começando por quem não tendo pertencido a nenhum dos ERec, por muitas vezes, fez da nossa unidade a sua segunda casa.
O Cap Salgueiro Maia, comandante do CCav 3420, estava sediado no destacamento de Pete e era visita frequente do "Esquadrão". Visitas contadas por Leonel Olhero no seu livro Ultrajes na guerra colonial - Reminiscências de um furriel de cavalaria, que lembra desses momentos:
"Salgueiro Maia gastava tardes no nosso quartel, onde parodiávamos e riamos com a sua boa disposição. Ele era um exímio contador de anedotas e sempre tinha divertidas histórias de loucos. Era distinto cantador de voz esplêndida, das proibidas baladas de Zeca Afonso, de entre outras patuscas cantigas.
Num sempre alegre recanto do nosso bar havia violas, bateria, acordeão e ferrinhos, de furriéis magníficos músicos. E era naquele mel de refúgio, onde se pastorejavam os instrumentos, que Salgueiro Maia
-uma verdadeira força para mim!...-
dava espetáculos vibrantes, acompanhando mais com a furrielada do que com os nossos oficiais e seus camaradas de curso. Naquelas tardes de folia era lindo ouvi-lo dizer, cantando: eles comem tudo e não deixam nada. Ou: Ó senhor de Matosinhos. Ó senhora da Boa Hora. Ensinai-nos os caminhos pra sair daqui pra fora.
(...) E não era raro também que, após o jantar e em alegres bocados de noites, o capitão não viesse do seu desviado quartel para se divertir connosco. E sempre o fazia sozinho, de jipe e Kalashnikov".
Do Relatório da Operação Fim-Regime elaborado a 29 de Abril, por Salgueiro Maia, citamos algumas partes que reportam à participação de alguns dos nossos camaradas que compunham a sua força:
"3 Execução
a) Conceito da Operação
Deslocar na madrugada de 25ABR74 um Esq. Rec. a 10 Viaturas Blindadas e um Esq. de Atiradores a 160 homens com 12 Viaturas de transporte de pessoal, 2 Ambulâncias e 1 Jeep. Estas forças devem iniciar o movimento pelas 03H00 e deslocar-se o mais rapidamente possível afim de entrar em posição ainda de noite.
b) Constituição da força
COMANDANTE - CAP CAV.ª
Salgueiro Maia
(...)
CMD. Esq. Rec.TEN. CAV.ª Santos Silva
(...)
2.º PEL. REC. AML. - CHAIMITE
1.º TEN. CAV.ª Santos Silva
(...)
COMANDO
TEN. CAV.ª Correia Assunção
Na continuidade do relatório, Salgueiro Maia, descreve a intervenção destes, no decorrer de uma das fases mais críticas desse dia.
Inicialmente, a oposição das forças do governo, feita por um pelotão de Rec. Panhard do RC7, surgido pelo lado da Ribeira das Naus foi resolvido pela rendição do Ten Cor Ferrand de Almeida.
Mais tarde, perante a movimentação das forças do Regimento de Cavalaria 7 (RC7) composta por 4 Carros de Combate M/47, uma Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria 1 (RI1) e alguns pelotões da Polícia Militar (PM), que se posicionaram na Ribeira das Naus e na Rua do Arsenal, viveram-se momentos de grande tensão:
"Na Rua do Arsenal as negociações foram feitas pelos TENs. CAV.ª Santos Silva e Assunção e Furriel Mil.º Cav.ª J. Nunes do RC7 que se tinha passado para o nosso lado. O furriel Mil.º J. Nunes iniciou um movimento até junto dos CC M/47 a fim de informar o Brigadeiro Reis de que devia vir a meio caminho para estabelecer conversações. Tendo andado cerca de 5 metros precedido pelo TEN. CAV.ª Santos Silva o Brigadeiro Reis abriu fogo na nossa direcção pelo que ambos se viram na contingência de ocupar as anteriores posições de defesa. Nessa altura o TEN. CAV.ª Santos Silva voltou à Praça do Comércio informando dos acontecimentos".
No seguimento desta ação, ocorreu o caso envolvendo o Brigadeiro Reis e Alfredo Assunção e que este recorda no livro Rapazes dos Tanques de Alfredo Cunha e Adelino Gomes:
"... avista o comandante do RC7, Romeiras Júnior.
-Tinha boa opinião dele: quando cheguei da Guiné, a seguir ao 16 de Março, convidou-me para comandar as unidades operacionais do RC7.
Disse-lhe, frontalmente: «Meu coronel, eu pertenço ao outro lado e quero ir para a Escola Prática de Cavalaria.» Pois bem, ele passa-me a guia de marcha e manda-me embora. Podia ter-me entregue à PIDE. (Por isso) Quando o vi ao longe, à paisana, (na Rua do Arsenal), decidi ir falar com ele. Acenei-lhe e ele fez-me sinal para avançar. Quando lhe digo que os generais Spínola e Costa Gomes estavam metidos naquilo, ele pega em mim e entramos numa confeitaria. Abre uma agenda, liga um número, mas ninguém atende.
-Ele disse (numa entrevista, em 1999) que não se lembrava de nada disso-
-Não sei para quem telefonou, mas lá que ligou, tenho a certeza.
Quando vamos a sair os dois, aparece o brigadeiro e amanda-me duas estaladas que eu fiquei... Perguntou: «O que é que este insurrecto está aqui a fazer?» Chegou a mandar fazer fogo sobre mim! É nessa altura que o coronel se interpõe e diz aos soldados: «O nosso brigadeiro está um bocado exaltado. O vosso comandante sou eu.» O brigadeiro ficou chateado: «Isto foram duas bofetadas de pai.» E eu: «Olhe que o meu pai nunca me bateu...» Ai, o coronel diz-me: «Desaparece daqui, antes que isto tudo se complique.»
Sobre este episódio, Otelo Saraiva de Carvalho, no seu livro Alvorada de Abril, acrescenta que:
"Este não reagiu. Toma a posição de sentido, faz a continência e retira-se com dignidade."
Mas o acontecimento pode ter outro tipo de leitura, em que o ato impulsivo do Brigadeiro Reis e o ato contrário do Coronel Romeiras, acabou com a dúvida de todos os que viviam aquele momento, sobre qual a posição a tomar.
No Relatório da Operação Fim-Regime, Salgueiro Maia relata a ordem escrita que recebeu de Otelo, na sequência da qual, e da sua ação, se chegou à rendição de Marcelo Caetano:
"SALGUEIRO MAIA:
Tentámos fazer um ultimato ao QG/GNR para entrega do Presidente do Conselho sem grandes resultados. Os tipos desligam o telefone ou retardam a chamada dizendo que vão ver se as pessoas estão. Com megafone tenta entrar em comunicação e fazer um aviso -ultimato para a rendição.
(...)
Pelas 15H00 com megafone solicitei a rendição do Carmo em 10 minutos. Como não fui atendido passados que foram 15 minutos ordenei ao Ten Cav.ª Santos Silva para fazer uma rajada da torre do Chaimite que comandava sobre as mais altas janelas do Quartel do Carmo."
(...) Pelas 19H00 levantámos cerco ao Carmo para nos dirigirmos ao Quartel da Pontinha (...)
O Professor Caetano e os outros elementos do governo foram conduzidos na auto-metralhadora Chaimite Bula que no mesmo tempo deu escolta à viatura civil onde se deslocava Sua Ex.ª o General António de Spínola também em direcção à Pontinha.
DIA D + 1
(...) Pelas 05H00 o Ten. Cav.ª Santos Silva deslocou-se para a Rua do Alecrim a fim de cercar o comando da DGS tendo regressado pelas 19H00.
DIA D + 2
Cerca das 00H30 o Ten. Cav.ª Santos Silva recebeu ordens para com duas viaturas blindadas escoltar a Tomar o Exmo. Coronel de Cav.ª Francisco Morais, Comandante da Região Militar de Tomar."
Mas outros camaradas tiveram um papel ativo no desenrolar da operação Fim-Regime e são mencionados por Salgueiro Maia:
(...) "o Exmo. Coronel Correia de Campos propôs ao P.C. a escolha de outros objectivos no que foi atendido. Propus a divisão do nosso efectivo em duas forças, sendo uma formada pelo E.P.C. e outra pelos RC 7, RL 2, RI 1 comandadas pelos Tenentes de Cavalaria Cadete e Balula Cid, tendo-se estes dirigido para o Q.G. da Legião Portuguesa na Penha de França."
Também Otelo Saraiva de Carvalho no seu livro Alvorada de Abril, menciona os nossos camaradas:
"O RC 7, esse, está totalmente contra nós ao nível dos oficiais do QP. É, francamente, uma unidade inimiga, que Viana de Lemos pôs sob o comando do coronel António Romeiras Júnior, seu cunhado também, e que recheou de carros de combate pesados M-47, provenientes de Santa Margarida. (...) Só os tenentes Cadete e Aparício são dos nossos, mas marcharam para a Escola Prática de Santarém, para o curso de comandantes de companhia, em 18 de Abril, abandonando o comando dos esquadrões."
"Os tenentes Cadete e Aparício, procedentes de Santarém, e o tenente-coronel Correia de Campos apresentaram-se no PC, onde ficarão a aguardar que o êxito das operações de comandos determine a possibilidade da sua deslocação para o RC 7, a fim de controlar e pôr a unidade ao serviço do MFA."
Em jeito de conclusão. Da participação destes camaradas, apenas tivemos conhecimento mais tarde, sendo uma surpresa pelo desconhecimento que tínhamos de tal envolvimento e da sua dimensão. Mas creio que visto com alguma naturalidade por nós. Sabíamos quem eram, do seu caráter, capacidade operacional para a missão que realizaram e do seu altruísmo.
Ao fim e ao cabo passáramos longos meses de bons e maus momentos, em que dependíamos uns dos outros e julgo que todos tínhamos a ideia de que passado esse tempo de incertezas, voltaríamos a estar juntos, desta vez como camaradas de guerra, cultivando uma amizade que todos os anos vamos cimentando nos encontros que realizamos.
Os tempos vividos na Guiné são essencialmente de memórias, algumas registadas em fotos que particularizam esses momentos de convívio. Foram tempos anteriores aos da liberdade, mas que nem essa nova realidade consegue apagar e ficam para sempre na história de cada um.
Do "Esquadrão de Bula" também fica, como marca da sua ligação ao 25 de Abril de 1974, o nome de BULA, inscrito na blindagem de uma Chaimite.
Num sempre alegre recanto do nosso bar havia violas, bateria, acordeão e ferrinhos, de furriéis magníficos músicos. E era naquele mel de refúgio, onde se pastorejavam os instrumentos, que Salgueiro Maia
-uma verdadeira força para mim!...-
dava espetáculos vibrantes, acompanhando mais com a furrielada do que com os nossos oficiais e seus camaradas de curso. Naquelas tardes de folia era lindo ouvi-lo dizer, cantando: eles comem tudo e não deixam nada. Ou: Ó senhor de Matosinhos. Ó senhora da Boa Hora. Ensinai-nos os caminhos pra sair daqui pra fora.
(...) E não era raro também que, após o jantar e em alegres bocados de noites, o capitão não viesse do seu desviado quartel para se divertir connosco. E sempre o fazia sozinho, de jipe e Kalashnikov".
Do Relatório da Operação Fim-Regime elaborado a 29 de Abril, por Salgueiro Maia, citamos algumas partes que reportam à participação de alguns dos nossos camaradas que compunham a sua força:
"3 Execução
a) Conceito da Operação
Deslocar na madrugada de 25ABR74 um Esq. Rec. a 10 Viaturas Blindadas e um Esq. de Atiradores a 160 homens com 12 Viaturas de transporte de pessoal, 2 Ambulâncias e 1 Jeep. Estas forças devem iniciar o movimento pelas 03H00 e deslocar-se o mais rapidamente possível afim de entrar em posição ainda de noite.
b) Constituição da força
COMANDANTE - CAP CAV.ª
Salgueiro Maia
(...)
CMD. Esq. Rec.TEN. CAV.ª Santos Silva
(...)
2.º PEL. REC. AML. - CHAIMITE
1.º TEN. CAV.ª Santos Silva
(...)
COMANDO
TEN. CAV.ª Correia Assunção
Na continuidade do relatório, Salgueiro Maia, descreve a intervenção destes, no decorrer de uma das fases mais críticas desse dia.
Inicialmente, a oposição das forças do governo, feita por um pelotão de Rec. Panhard do RC7, surgido pelo lado da Ribeira das Naus foi resolvido pela rendição do Ten Cor Ferrand de Almeida.
Mais tarde, perante a movimentação das forças do Regimento de Cavalaria 7 (RC7) composta por 4 Carros de Combate M/47, uma Companhia de Caçadores do Regimento de Infantaria 1 (RI1) e alguns pelotões da Polícia Militar (PM), que se posicionaram na Ribeira das Naus e na Rua do Arsenal, viveram-se momentos de grande tensão:
"Na Rua do Arsenal as negociações foram feitas pelos TENs. CAV.ª Santos Silva e Assunção e Furriel Mil.º Cav.ª J. Nunes do RC7 que se tinha passado para o nosso lado. O furriel Mil.º J. Nunes iniciou um movimento até junto dos CC M/47 a fim de informar o Brigadeiro Reis de que devia vir a meio caminho para estabelecer conversações. Tendo andado cerca de 5 metros precedido pelo TEN. CAV.ª Santos Silva o Brigadeiro Reis abriu fogo na nossa direcção pelo que ambos se viram na contingência de ocupar as anteriores posições de defesa. Nessa altura o TEN. CAV.ª Santos Silva voltou à Praça do Comércio informando dos acontecimentos".
No seguimento desta ação, ocorreu o caso envolvendo o Brigadeiro Reis e Alfredo Assunção e que este recorda no livro Rapazes dos Tanques de Alfredo Cunha e Adelino Gomes:
"... avista o comandante do RC7, Romeiras Júnior.
-Tinha boa opinião dele: quando cheguei da Guiné, a seguir ao 16 de Março, convidou-me para comandar as unidades operacionais do RC7.
Disse-lhe, frontalmente: «Meu coronel, eu pertenço ao outro lado e quero ir para a Escola Prática de Cavalaria.» Pois bem, ele passa-me a guia de marcha e manda-me embora. Podia ter-me entregue à PIDE. (Por isso) Quando o vi ao longe, à paisana, (na Rua do Arsenal), decidi ir falar com ele. Acenei-lhe e ele fez-me sinal para avançar. Quando lhe digo que os generais Spínola e Costa Gomes estavam metidos naquilo, ele pega em mim e entramos numa confeitaria. Abre uma agenda, liga um número, mas ninguém atende.
-Ele disse (numa entrevista, em 1999) que não se lembrava de nada disso-
-Não sei para quem telefonou, mas lá que ligou, tenho a certeza.
Quando vamos a sair os dois, aparece o brigadeiro e amanda-me duas estaladas que eu fiquei... Perguntou: «O que é que este insurrecto está aqui a fazer?» Chegou a mandar fazer fogo sobre mim! É nessa altura que o coronel se interpõe e diz aos soldados: «O nosso brigadeiro está um bocado exaltado. O vosso comandante sou eu.» O brigadeiro ficou chateado: «Isto foram duas bofetadas de pai.» E eu: «Olhe que o meu pai nunca me bateu...» Ai, o coronel diz-me: «Desaparece daqui, antes que isto tudo se complique.»
Sobre este episódio, Otelo Saraiva de Carvalho, no seu livro Alvorada de Abril, acrescenta que:
"Este não reagiu. Toma a posição de sentido, faz a continência e retira-se com dignidade."
Mas o acontecimento pode ter outro tipo de leitura, em que o ato impulsivo do Brigadeiro Reis e o ato contrário do Coronel Romeiras, acabou com a dúvida de todos os que viviam aquele momento, sobre qual a posição a tomar.
No Relatório da Operação Fim-Regime, Salgueiro Maia relata a ordem escrita que recebeu de Otelo, na sequência da qual, e da sua ação, se chegou à rendição de Marcelo Caetano:
"SALGUEIRO MAIA:
Tentámos fazer um ultimato ao QG/GNR para entrega do Presidente do Conselho sem grandes resultados. Os tipos desligam o telefone ou retardam a chamada dizendo que vão ver se as pessoas estão. Com megafone tenta entrar em comunicação e fazer um aviso -ultimato para a rendição.
(...)
Pelas 15H00 com megafone solicitei a rendição do Carmo em 10 minutos. Como não fui atendido passados que foram 15 minutos ordenei ao Ten Cav.ª Santos Silva para fazer uma rajada da torre do Chaimite que comandava sobre as mais altas janelas do Quartel do Carmo."
(...) Pelas 19H00 levantámos cerco ao Carmo para nos dirigirmos ao Quartel da Pontinha (...)
O Professor Caetano e os outros elementos do governo foram conduzidos na auto-metralhadora Chaimite Bula que no mesmo tempo deu escolta à viatura civil onde se deslocava Sua Ex.ª o General António de Spínola também em direcção à Pontinha.
DIA D + 1
(...) Pelas 05H00 o Ten. Cav.ª Santos Silva deslocou-se para a Rua do Alecrim a fim de cercar o comando da DGS tendo regressado pelas 19H00.
DIA D + 2
Cerca das 00H30 o Ten. Cav.ª Santos Silva recebeu ordens para com duas viaturas blindadas escoltar a Tomar o Exmo. Coronel de Cav.ª Francisco Morais, Comandante da Região Militar de Tomar."
Mas outros camaradas tiveram um papel ativo no desenrolar da operação Fim-Regime e são mencionados por Salgueiro Maia:
(...) "o Exmo. Coronel Correia de Campos propôs ao P.C. a escolha de outros objectivos no que foi atendido. Propus a divisão do nosso efectivo em duas forças, sendo uma formada pelo E.P.C. e outra pelos RC 7, RL 2, RI 1 comandadas pelos Tenentes de Cavalaria Cadete e Balula Cid, tendo-se estes dirigido para o Q.G. da Legião Portuguesa na Penha de França."
Também Otelo Saraiva de Carvalho no seu livro Alvorada de Abril, menciona os nossos camaradas:
"O RC 7, esse, está totalmente contra nós ao nível dos oficiais do QP. É, francamente, uma unidade inimiga, que Viana de Lemos pôs sob o comando do coronel António Romeiras Júnior, seu cunhado também, e que recheou de carros de combate pesados M-47, provenientes de Santa Margarida. (...) Só os tenentes Cadete e Aparício são dos nossos, mas marcharam para a Escola Prática de Santarém, para o curso de comandantes de companhia, em 18 de Abril, abandonando o comando dos esquadrões."
"Os tenentes Cadete e Aparício, procedentes de Santarém, e o tenente-coronel Correia de Campos apresentaram-se no PC, onde ficarão a aguardar que o êxito das operações de comandos determine a possibilidade da sua deslocação para o RC 7, a fim de controlar e pôr a unidade ao serviço do MFA."
Em jeito de conclusão. Da participação destes camaradas, apenas tivemos conhecimento mais tarde, sendo uma surpresa pelo desconhecimento que tínhamos de tal envolvimento e da sua dimensão. Mas creio que visto com alguma naturalidade por nós. Sabíamos quem eram, do seu caráter, capacidade operacional para a missão que realizaram e do seu altruísmo.
Ao fim e ao cabo passáramos longos meses de bons e maus momentos, em que dependíamos uns dos outros e julgo que todos tínhamos a ideia de que passado esse tempo de incertezas, voltaríamos a estar juntos, desta vez como camaradas de guerra, cultivando uma amizade que todos os anos vamos cimentando nos encontros que realizamos.
Os tempos vividos na Guiné são essencialmente de memórias, algumas registadas em fotos que particularizam esses momentos de convívio. Foram tempos anteriores aos da liberdade, mas que nem essa nova realidade consegue apagar e ficam para sempre na história de cada um.
Do "Esquadrão de Bula" também fica, como marca da sua ligação ao 25 de Abril de 1974, o nome de BULA, inscrito na blindagem de uma Chaimite.
Eu estive no esquadrão 3432 desde 30/05/1972, até 6/7/74, era um dos dois radiotelegrafistas,era eu e o António Robalo. em BULA ESQ. PANHARD.
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