PORQUE CONSIDERO IMPORTANTE SABER!
O Coronel Rui Santos Silva, então com a patente de Tenente, prestou serviço na Guiné no ERec 3432-1.ª Fase entre 1971 e 1973. Mas a sua carreira como militar viria a ficar para sempre marcada pela sua participação no golpe militar de 25 de Abril de 1974.
Desse dia e sequentes decidiu publicar para
memória futura um depoimento do particular da sua ação na sua página do Facebook.
São esses textos e fotos que intitulou de “Porque considero importante saber!" que aqui deixamos com o mesmo objetivo e forma singela de homenagear a sua memória.
Ficará para os que fomos seus camaradas de armas em uníssono PRESENTE.
Publicado a 20 de Março de 2021
“A fotografia ontem publicada (a
propósito do Dia do PAI) incentivou-me a iniciar a divulgação de acontecimentos
no dia 25 de Abril 74 e dias seguintes que por serem vividos quase
individualmente não são do conhecimento público.
A poucos dias da Comemoração de mais
um Aniversário (47 anos), procurarei na medida do possível dar a conhecer
alguns factos de forma aleatória e diariamente.
Local da foto -
LARGO DO ROSSIO
Dia e hora - 26 de
Abril 74, cerca das 17 horas
Às 03h00 da manhã fui chamado ao
Comando do Movimento (Pontinha) e pelo Senhor Tenente-Coronel Fisher Lopes
Pires recebi a missão de ir reforçar o cerco à sede da PIDE/DGS na Rua António
Maria Cardoso.
Das viaturas disponíveis escolhi uma
Chaimite (na imagem) e uma EBR 7.5mm.
Iniciámos a marcha cerca das 03h30
tendo chegado ao local cerca das 04h00.
Já aí se encontrava uma Força de
Fuzileiros que nos solicitou a senha ao subirmos a Rua do Alecrim.
Dita a senha seguimos e no
reconhecimento às imediações da Rua António Maria Cardoso verificámos não haver
condições para a instalação operacional eficaz e em segurança para cumprir a
missão.
Assim entendeu-se optar pela Rua do
Alecrim numa transversal (SACOR) da qual se visionava e alcançava o objectivo
no seu todo.
Rendição efectivada entreguei o
Comando ao Furriel Lutas Chefe da Viatura EBR dirigindo-me a pé (atravessando
um terreno entaipado) ao edifício da PIDE.
Encontrei o Capitão Cavalaria e
Comando Miquelina Simões a quem perguntei da necessidade da minha permanência.
Em resposta foi-me dito que já não
era necessário e para me dirigir para o RI 1 (Amadora) ou RE 1 (Pontinha) não
sei ao certo porque a audição no local era má ou então a minha!
E convencido que tinha ouvido bem
(RI 1) rumámos à Amadora passando pelo Rossio, marquês de Pombal....
No Marquês de Pombal celebravam a
Vitória um grupo de jovens pelo que tivemos que abrandar a marcha a ponto que
um dos celebrantes teve oportunidade de me retirar do ombro direito os galões
de tenente passando a ser meio tenente!
Chegados à Amadora verificámos que o
portão do Regimento se encontrava fechado.
Como cautela e caldos de galinha... parámos
a cerca de 100 metros e alertando o Furriel dirigi-me a pé ao portão.
Fui recebido em euforia por vários
militares (oficiais, sargentos e praças) e com a sua colaboração o portão foi
aberto.
Nada nos faltou desde a alimentação
ao óleo para o sistema hidráulico da EBR (estava quase vazio), mas o óleo
indicado Aero Shell Fluid 4 não existia pelo que se optou com algum risco pelo
óleo 10 para elevar um pouco o nível.
Fui então informado que o Senhor
Coronel Comandante ainda estava na Unidade e não tinha aderido ao Movimento.
Era hora de jantar que não faltou a
ninguém, mas a mim coube-me jantar na messe de Oficiais onde se entrava o
Senhor Coronel Comandante a jantar.
Como disse era meio tenente e de
forma nenhuma iria jantar (!) com o Comandante sem pelo menos ter galões nos
dois ombros.
Na Unidade só havia um tenente - o
capelão.
Socorri-me da sua colaboração, mas
só com a promessa de que em Agosto quando promovido a capitão lhe daria todos
os de tenente é que consegui jantar com o Senhor Comandante na mesma mesa e
conversando serenamente.
AQUI FICA DESCRITA A RENDIÇÃO DO REGIMENTO DE INFANTARIA 1
Solicito que me informem se possível
o nome do Furriel que me acompanhou na missão de Cerco à PIDE/DGS.
Tenho a certeza que há militares da
UNIDADE de SANTARÉM que se recordam. O nome e a pessoa não merecem nem podem
ser esquecidos.”
GRACILIANO UM GRANDE E FORTE ABRAÇO E AO CONDUTOR TAMBÉM.
Publicado a 21 de Março de 2021
P.S. Na fotografia:- Capitão Salgueiro Maia, Tenente
Santos Silva, Furriel Ilharco (?) Tms, Major Inf. Velasco Martins.
“No dia 25 Abril, pelas 10h00 o
objectivo Terreiro do Paço deixou de ser remunerador. Já se tinham concretizado
a fuga do Ministro e seus colaboradores e a rendição da força do RC 7 na Rua
Ribeira das Naus.
Conforme descrito no relatório de
Operação " Fim de Regime " outros objectivos foram atribuídos - Largo
do Carmo e Legião Portuguesa.
O Grupo de Cavalaria (-) da EPC
(comandado por Salgueiro Maia) passou a ser (+) por força da integração de
viaturas blindadas do RC 7.
Assim foi o Grupo devido em dois e
cada seguiu para o seu objectivo.
Com o TERREIRO DO PAÇO
"invadido" pela População a Força com objectivo LARGO DO CARMO
iniciou a sua marcha e, eis se não quando SALGUEIRO MAIA e eu verificámos que
estávamos sós apenas com o Jeep onde permanecia o condutor e o furriel Ilharco
de transmissões.
Seguimos de Jeep para o ROSSIO
(repleto de população) e o condutor seguiu em frente para o Teatro Dona Maria.
Invertemos a marcha e quando nos
preparávamos para subir a Rua do Chiado aparece um Capitão de uniforme nº 3 que
nos diz:-
" Estou aqui para vos impedir
de passar "
Acrescentou de seguida que estava
connosco.
Quando chegados ao LARGO DO CARMO o
dispositivo estava montado sem que se tornasse necessária qualquer intervenção
do MAIA ou minha.
Permitam-me usar o ditado - Foi
chegar e colocar ao fumeiro!”
COM HOMENS ASSIM A MISSÃO DO COMANDANTE É MUITO FACILITADA.
OBRIGADO A TODOS.
Publicado a 22 de Março de 2021
“Consumada a rendição no Quartel do
Carmo recebi ordem para marchar com a Coluna para a Pontinha ficando apenas no
Carmo a Chaimite (que transportou o Senhor Presidente do Conselho Marcelo
Caetano) o Jeep do Comando e a viatura que transportou o Senhor General
Spínola.
Descemos em direcção ao ROSSIO (não
foi fácil), mas quando se aliam a vontade e a colaboração tudo é possível.
Seguimos o seguinte itinerário:-
Rossio - Avenida da Liberdade -
Marquês de Pombal - Avenida da Republica - Campo Grande - Colégio Militar -
Pontinha.
Não me recordo do número de
viaturas, mas era uma coluna com dimensão razoável e como sempre a ligação
efectuasse sempre, mas sempre da frente para trás. Para os menos entendidos -
ligação é de modo simples não perder a visão da viatura que segue atrás.
Quando chegados à cortada para o
Colégio Militar apeei mandei seguir e fiquei a observar se tudo estava em
condições.
Verifiquei que faltavam pelo menos 3
viaturas que supus mais atrasadas e esperei.
Não apareceram e apesar de cansado
não tinha alternativa que não fosse ir a pé até ao Colégio Militar, mas nem
tudo corre mal.
Parou junto a mim um BMW (azul) e o
Senhor Condutor perguntou-me se era preciso alguma coisa.
Informei-o da minha situação e
prontificou-se a transportar-me ao Colégio Militar. Nunca consegui saber que
foi, mas fica aqui o meu agradecimento.
Chegados ao Colégio Militar somos
barrados não me recordo se por alunos que manifestavam a sua alegria ou
militares em serviço no Colégio.
Como referi acima nem tudo corre mal
e foi com algum alívio que apareceu o Oficial Dia ao Colégio, Capitão de
Cavalaria Alcaide Freitas (Camarada e Amigo) que desbloqueou a situação.
Jantámos no Colégio - almondegas -
não sei se estavam bem feitas ou não, mas que souberam bem, souberam.
Mais tarde, mas mesmo mais tarde vim
a ter conhecimento que as viaturas em falta rumaram a Santarém.
P.S. Se o Senhor ou Familiares
tiverem conhecimento deste texto gostaria de saber quem é ou quem foi.”
“Regresso hoje à EPC revivendo a
noite de 24 para 25 de Abril.
Recebida que foi a Ordem de
Operações como consta o relatório da Operação " FIM - Regime "
tiveram inicio muitos contactos, reuniões e acções que a serem descritas faria
do relatório um livro de muitas páginas.
Como é evidente recolhemo-nos no
Quartel e num dos quartos destinados aos Oficiais aguardavam-se com ansiedade
as canções senhas "DEPOIS DO ADEUS" e " GRÂNDOLA VILA MORENA
".
Num dos quartos o Comandante de
Grupo - Capitão Salgueiro Maia conjuntamente com os dois Comandantes de
Esquadrões. Esquadrão de Atiradores Auto Transportado - Capitão Tavares de
Almeida.
Esquadrão de Reconhecimento -
Tenente Rui Santos Silva
Presentes também o Adjunto de
Salgueiro Maia - Tenente Alfredo Assunção e outros mais de que não recordo de
momento. As minhas desculpas.
Um dos trabalhos foi a elaboração do
esquema de Ocupação do Terreiro do Paço quer com os atiradores, quer com as
viaturas blindadas de acordo com a missão. Os ajustes, se necessários seriam
feitos quando em presença da sua ocupação.
Finalmente a primeira senha apareceu
e a expectativa aumentou à espera da segunda.
Chegou e aí a descarga de ansiedade,
receio e em frente porque estava na hora.
Assim cada um foi acordar os seus
militares e em breve palavras informados do que se ia passar não impondo a
ninguém obrigatoriedade de tomar parte.
TEMOS HOMENS EXCEPCIONAIS. CONFIANDO NOS COMANDANTES E A GRANDE MAIORIA DESEJOSA
DESTA HORA A ADESÃO FOI TOTAL E IMEDIATA.
Dificuldade houve em ter que decidir
quem vinha e quem teria de ficar. Na EPC tinha que permanecer uma Força
necessária e suficiente para enfrentar qualquer problema que aparecesse e que
simultaneamente nos garantisse segurança de retaguarda.
Pelas 03h00 iniciou-se a marcha
sobre Lisboa.
Nas proximidades do Cartaxo o
primeiro contra tempo - a avaria de uma EBR que prontamente foi assistida e
recuperada.
Chegados à auto-estrada deveríamos
ter ocupado as duas fachas impedindo que fossemos ultrapassados pela viatura
pesadas, mas por falta de comunicações (penso) falhou.
Não foi acontecimento que nos
impedisse.
A Coluna com 2 EBR à frente - na
primeira Alferes Maia Loureiro, na segunda Alferes Clímaco
Viaturas com maior poder de fogo e
de choque.
Na terceira 1 AML - Tenente Santos
Silva + Furriel Carmona
Comandante do Grupo - em Jeep com
Adjunto + Furriel de Transmissões Ilharco.
Na descida para a portagem e antes de entrarmos na ponte sob o Rio Trancão os semáforos das portagens passaram a vermelho.
A velocidade manteve-se e o
portageiro (talvez para que não fosse responsabilizado (!)) levantou as
cancelas e passou a verde.
Um olhar de nostalgia e satisfação
foi por nós dirigido para o RA 1 onde sabíamos ter Camaradas presos em
consequência da saída do RI 5 em 16 de Março.
Todo o trajeto está descrito e bem,
mas permito-me acrescentar que quando da aparição da POLÍCIA de CHOQUE na
Avenida Fontes Pereira de Melo, o facto do Alferes Loureiro e penso que Clímaco
também terem ligado as sirenes das EBR conjuntamente com a manutenção da
velocidade retirou qualquer iniciativa.
Pelas 05h30 entrámos no TERREIRO DO
PAÇO.
A PSP ocupava diversas posições e
sem interferência o nosso dispositivo já previsto foi montado e ajustado.
Da outra margem começavam a chegada
do Cacilheiros e o pessoal que se dirigia aos seus postos de trabalho.
Já a zona estava toda isolada e
proibida a passagem de quer que fosse.
Em determinada altura ouço uma
discussão mais acesa e dirigi-me ao local.
Uma Senhora que se dizia (Empregada
Doméstica) queria passar porque os patrões estavam à espera e perdia o seu dia
de trabalho.
E então saiu-me.-
Minha Senhora vá para casa porque
hoje é feriado e para o ano também.
DECRETADO ASSIM O FERIADO NACIONAL 25 DE ABRIL.
O PASSARINHO OU BALA DE OURO
Publicado a 24 de Março de 2021
“Na "crónica" de ontem
entrámos no Terreiro do Paço e por lá vamos permanecer.
O que vou narrar necessita de um
preâmbulo para melhor compreensão dos menos identificados com as regras que
qualquer militar deve conhecer, dar a conhecer tendo OBRIGAÇÃO de as cumprir e
OBRIGAR a CUMPRIR.
"A CONVENÇÃO DE GENEBRA define
as regras acima referidas com exactidão e, a título de exemplo - Militar preso,
capturado ou que se tenha rendido não pode ser objecto de maus tratos, morto,
etc..., mas tem obrigação de se identificar podendo perder a protecção que lhe
é devida se não o fizer. "
Como é do conhecimento geral aí se
desenrolaram acções muito importantes e que poderiam ter colocado em causa a
REVOLUÇÃO.
Foi o objectivo principal e todos
nos empenhámos para ultrapassar as dificuldades trabalhando como um todo.
Deparámos com o primeiro obstáculo
quando uma Força do RC 7 (Pelotão de Viaturas Blindadas - AML, Chaimites e EBR
(!) comandada pelo Alferes David e Silva progrediu na Rua Ribeira das Naus na
nossa direcção.
Pelas 07h00 nova força do RC 7 (Pelotão
de Viaturas Panhard) comandado pelo Senhor Tenente-Coronel Ferrand de Almeida.
Na qualidade de Comandante do
Esquadrão de Reconhecimento (Viaturas Blindadas) do Grupo de Cavalaria
comandado pelo Capitão Salgueiro Maia observei com toda a atenção o evoluir da
situação precavendo uma intervenção que se poderia tornar necessária.
A força comandada pelo Senhor
Tenente-Coronel Ferrand de Almeida fez alto a alguma distância e o Sr. TCor
dirigiu-se a pé ao Terreiro do Paço.
Ao deparar com tropas de Cavalaria
tem uma frase que "parece" ter caído no esquecimento:-
CAVALARIA NÃO ATACA A CAVALARIA
Rendeu-se de seguida e ao ser
interpelado por alguém do Ministério do Exército (penso que o Senhor Coronel Fontoura)
diz que está preso e nada pode fazer.
Pelo Capitão Salgueiro Maia foi-me
entregue a sua guarda.
Acompanhou-me até uma Chaimite
estacionada junto à estátua de D. José onde entabulámos uma conversa
clarificando preocupações revelando uma pequena, mas significativa parte:-
Santos Silva isto não é uma
revolução comunista?
Nem pensar meu tenente-coronel.
Então íamos sair duma ditadura para nos metemos noutra?
Sabe é que vi uma Kalachnikov e
fiquei preocupado.
Meu Tenente-Coronel a Kalach que viu
é minha (recordação da Guiné) e trouxe-a porque ela leva mais munições do que G3.
A minha resposta pareceu-me ter
algum efeito porque a partir desse momento começou a colaborar connosco (neste
caso comigo) chamando à atenção de algumas anomalias que se iam criando no
dispositivo.
Não me recordo quanto tempo durou a
conversa, mas como tinha outras missões despedi-me e nunca mais vi o Senhor
Tenente-Coronel.
Anos passados, 1984/1985 colocado no
RCSM recebi uma carta do Senhor Tenente-Coronel solicitando-me um depoimento do
que se tinha passado no Terreiro do Paço porque não gostaria que os netos
ficassem com a memória de que tinha sido um cobarde.
Conheci o Senhor Tenente-Coronel (ainda
major) precisamente em Santa Margarida (1970) e, nas minhas horas vagas ia
observar o seu trabalho a montar a cavalo. Fazia-o ao fim do dia e fora das
horas de serviço. Sempre que terminava vinha agradecer-me a presença.
Sem qualquer relutância respondi
satisfazendo o pedido.
Fiquei curioso efectuando
diligências para saber o que se tinha passado.
Vim a saber que num livro, cujo
autor desconheço, o Senhor Tenente-Coronel Ferrand de Almeida tinha sido ou foi
caluniado.
Se as razões foram referentes ao que
se passou no Terreiro do Paço cometeu-se uma ENORME INJUSTIÇA.
E termino com – CAVALARIA NÃO ATACA
A CAVALARIA.”
Publicado a 26 de Março de 2021
“Subimos hoje ao Largo do Carmo onde
permaneceremos até à rendição do Presidente do Conselho.
Para além da preparação dos
materiais necessários para o cumprimento da missão que nos foi atribuída, outra
preocupação predominou e que teve que ser interiorizada por todos fosse qual
fosse o posto ou cargo que exercesse.
O DESEJO DE FAZER UMA REVOLUÇÃO SEM DERRAMANENTO DE SANGUE.
Cabia a cada um por si ou em
conjunto ter essa preocupação sempre presente evitando responder a possíveis
provocações.
Felizmente assim aconteceu no
Terreiro do Paço na Rua do Arsenal.
Longas horas se passaram com imensas
tentativas de conversações, intimidações e ultimatos da iniciativa do
Comandante das Forças - Capitão Salgueiro Maia.
O impasse mantinha-se e com o
avançar do dia urgia resolver definitivamente a situação.
Cerca das 14h30 (+/-) chegou ao
Largo do Carmo o Sr. Capitão de Artilharia Rosado da Luz vindo do Posto de
Comando sendo portador de uma ordem escrita pelo Major Otelo Saraiva de
Carvalho que entregou ao Comandante da Força sitiante e que transcrevo na
íntegra:-
SALGUEIRO MAIA
Tentámos fazer ultimato ao QG/GNR
para entrega do PRESIDENTE do Conselho sem grandes resultados. Os tipos
desligam o telefone ou retardam a chamada dizendo que vão ver se as pessoas
estão.
Com o megafone tenta entrar em
comunicações e fazer um aviso - ultimato para rendição. Eu já ameacei o Cor.
Ferrari mas ele parece não ter acreditado. Com autometralhadora rebenta a
fechadura do portão para verem que é a sério. Julgo que não reagirão.
Felicidades. Um abraço.
Executou-se a tentativa de abertura
da porta com uma autometralhadora EBR, mas não s e conseguiu.
O que todos queríamos evitar foi
equacionado e a ameaça com abertura de fogo contra o Quartel tornou-se uma
realidade.
Salgueiro Maia e eu estávamos muito
perto tivemos uma breve conversa e foi-me atribuída a missão de iniciar a
abertura de fogo tendo como objectivo a parte superior do edifício entra o topo
das janelas do piso superior e o telhado.
Utilizando uma Chaimite com a
metralhadora HK21 fez-se a primeira ameaça.
Não obtivemos reacção à abertura de
fogo nem qualquer reacção que indiciasse rendição.
Mais tarde nova abertura de fogo,
mas desta vez utilizando todas as armas ligeiras disponíveis com o mesmo
resultado.
O que anteriormente descrevi do
conhecimento de muitos da minha geração, mas pouco revelados nas escolas tem
como finalidade referir que outra opção de fogo foi decidida e a ordem chegou a
ser dada.
Recebi ordem para abrir fogo com a
peça 7,5cm das EBR direccionado ao portão.
Essa ordem foi concretizada e para
isso dirigi-me às duas EBR'S posicionadas em frente do portão tendo como Chefes
de Viatura os Alferes Clímaco e Sampaio e informei do que se ia fazer.
Como as granadas eram explosivas e
não perfurantes a evacuação do Largo impunha-se e com a colaboração de todos
ficarem resguardados.
Posicionei-me junto à Chaimite que
anteriormente tinha utilizado e com o megafone de Salgueiro Maia dei ordem de
fogo.
NADA!
Digo ao Maia - aquela merda
encravou!
Nesse momento surgiu o Tenente
Alfredo Assunção acompanhado de dois civis (Drs. Távora e Feytor Pinto) com
credencial do General Spínola para dialogar com o Presidente do Conselho.
DEI DE IMEDIATO ORDEM DE ALTO AO FOGO.
Desconheço a razão porque este
acontecimento está omitido no Relatório.
Interpelados os Alferes Clímaco e
Sampaio para saber a razão de não ter sido aberto fogo foi-me dito que não
tinha concretizado qual a que devia fazer porque tudo estava operacional.”
FELIZMENTE ENGANEI-ME EVITANDO MUITO SANGUE PORQUE DENTRO DO QUARTEL DO
CARMO ALÉM DOS MILITARES PERMANECIAM FAMILIARES, SÓ MAIS TARDE TIVE
CONHECIMENTO DAS PRESENÇAS ACIMA REFERIDAS MULHERES E FILHOS.
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