MONUMENTO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR




“A memória da nação está presente no quotidiano dos povos um pouco por todo o mundo, crescendo, vivendo e sentindo com eles, demarcando o presente e o futuro, enquanto “forma de representação de uma identidade construída ao longo de oito séculos de forma descontínua” (Bethencourt e Curto, 1991:7).”

“Os homens pensam e agem ao longo do tempo de modo diferente, por divergências de carácter, conjunturas sociais, políticas, culturais, religiosas, económicas ou outras, por isso a perceção que cada um tem do passado também diverge. Como a sociedade também muda, pressupõe-se que a memória também mude e que a “nação, enquanto comunidade histórica com identidade própria é igualmente mutável, constituindo-se como complexo em transformação no espaço e no tempo” (Bethencourt e Curto, 1991:11).”

Textos retirados da dissertação para obtenção do grau de Mestre em Empreendedorismo e Estudos da Cultura do ISCTE-IUL, de Mónica Sofia Ramos Sarreira, intitulada: O Complexo Memorial ao Combatente Português em Belém: Um Lugar de Reconciliação?


Os textos apresentados relevam dois aspetos da memória coletiva: um que nos remete para a memória histórica da Nação; outro para a sua perceção individual e societal. E onde o “descontinuo” dessa perceção parece ser um dos grandes óbices do que deveria ter sido um ato continuum, dessa memória, sem omissões ou reescrita dos seus factos. 

Se a investigação histórica permite conhecer elementos que possibilitem uma revisão séria de acontecimentos passados, tentar reescrever  a importância dos mesmos pelo seu  desprestigio, menorização ou condenação, apenas revela inferioridade intelectual de quem o faz.

Durante os anos de 1961 a 1974, milhares de homens serviram militarmente nas Forças Armadas Portuguesas. 

O que foi uma resposta insuficiente para com os combatentes da Grande Guerra está próxima do ocorrido com os combatentes do passado conflito africano. 

A maioria dos combatentes do Serviço Militar Obrigatório (SMO) foi rapidamente esquecido pelo país político e o universo castrense, contribuindo com esse alheamento para não cuidar, como era seu dever, e reconhecendo apenas tardiamente da necessidade de apoio psicológico ou reintegração social de muitos deles. Vulgarizando em respostas institucionais tardias, problemas específicos de quem teve que viver a guerra, cerceadoras de possíveis direitos, como o exemplo de Deficiente das Forças Armadas (DFA), e que por esse motivo condenaram milhares de homens a um obscurantismo penalizador.

Mas, como referido, a sociedade no seu todo também muda. E mais uma vez de modo similar ao anterior conflito, deu lugar ao luto, ao perpetuar os que deram a vida num sacrifício último, expresso nos memoriais que lhe são alusivos.

Daí também a insistência da memória dos que sobreviveram, em considerarem como aplicável, com relação a esse período de tempo, a designação de “Ultramar” e não de “Colonial”, por parte de muitos deles, encontrando nessa designação  uma razão maior para a sua ida para esses “territórios ultramarinos”, então ideia de unicidade da identidade nacional portuguesa.  

A diferença de conceito que procede das duas designações, não deixa de ser erudita, e não fácil de entender por muitos dos que participaram nesse conflito. Uns por razões culturais, mas outros talvez por continuarem presos a um passado que se perpetua dentro de si e onde as memórias, se alteradas, acentuam dúvidas e injustificam a sua participação e ações. Mudança dolorosa para quem, ao longo da vida, tem tentado “arrumar” essas vivências conforme pode na sua cabeça. Tarefa adiada por uma sociedade que, durante muito tempo, igualmente os obrigou a remeter ao silêncio e esquecimento, quando apenas julgavam ter cumprido o seu dever.


O monumento é uma criação do arquiteto Francisco José Ferreira Guedes de Carvalho, tratando-se de uma construção assimétrica de grandes dimensões de forma piramidal.

A estrutura fragmentada possui duas tonalidades: o branco e o castanho, convergindo em dois polos que simbolizam a “união”, que se pretende manter com os povos africanos dos antigos territórios ultramarinos.

Foi edificado junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, tendo sido inaugurado em 1994.

Entre os seus objectivos estão os de homenagear os militares portugueses, metropolitanos e ultramarinos, que caíram em combate durante a “Guerra do Ultramar” e promover no tempo e publicamente o reconhecimento do país para com esses combatentes.

O espelho d’água que rodeia o monumento tem igualmente um efeito simbólico de eternidade, criando um ambiente de tranquilidade e repouso, que dá vida ao todo memorial.


 MUSEU DO COMBATENTE, CAPELA E MEMORIAL 






O Forte do Bom Sucesso, cuja construção remonta ao século XVIII, situado frente ao Tejo, alberga o Museu do Combatente, a Capela e Memorial de um soldado desconhecido, estando sob tutela da Liga dos Combatentes. 

Hoje igualmente um espaço de memória, os seus muros exteriores virados para terra suportam as lápides com cerca de 10 mil nomes de militares que morreram ao serviço de Portugal, em diferentes missões, sendo este grupo monumental, onde se insere também a Torre de Belém, enquadrado pelo Monumento aos Combatentes do Ultramar e fronteiro à Praça do Imperio. 





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