PARA A HISTÓRIA DO ESQUADRÃO DE BULA





Fotos: © José Ramos, Leonel Olhero, Armando Lopes, Daniel Salgueira, Manuel Bacalhau



Na Guiné, o espaço físico do “Esquadrão” de Bula ficou ligado, até final do conflito, à Panhard, às unidades que ai permaneceram e em particular à figura do então Cap Monge, comandante do ERec 2454, que obteve autorização para instalar a sua unidade num espaço próximo dessa povoação, anteriormente ocupado pela "Engenharia", durante a fase de construção de estradas na zona.
Por muitos lugares que andássemos, aquele local simbolizava a nossa “casa”, onde todos ansiávamos regressar e nos sentíamos mais protegidos.

No excelente livro de memórias "Guiné Mal-Amada - O inferno da guerra" de António Ramalho de Almeida, dos primeiros oficiais do Exército a tirar a especialidade de autometralhadoras Panhard, na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Tendo cumprido uma comissão de serviço no TO como Alf Cav. Este diz a certo passo, a propósito da sua nomeação para uma nova missão:

"-O alferes Ramalho sabe que é o único oficial de cavalaria operacional aqui na Guiné? Aguardamos a chegada de um esquadrão de autometralhadoras Panhard, mas a preparação ainda está atrasada à volta de dois meses.
Estão ainda na Metrópole em Santa Margarida e só devem embarcar em Junho."

Bibliografia: Almeida, António Ramalho (2013) Guiné mal-amada - O inferno da Guerra. Porto: Fronteira do Caos Editores

Este texto antecipa o princípio da utilização das Panhard na Guiné, com a chegada em 1966, do PRec 1106, que foi a primeira unidade a operar estas viaturas blindadas no TO.

Este pelotão seria rendido pelo PRec 2024, que posteriormente integrou o ERec 2454. 





Primeiras quatro Panhard dadas como operacionais  


As primeiras Panhard recebidas no Batalhão de Serviço de Material (BSM), terão chegado ao TO em junho de 1966, passando a equipar gradualmente os PRec existentes, estando a sua totalidade operacional aquando da constituição do ERec 2454 . 

Alguns camaradas de outras unidades, que conviveram com o pessoal das Panhard, também se referem à localização do "Esquadrão".

Armando Pires  que foi Fur Mil Enf da CCS/BCaç 2861, 1968/1970, e esteve em Bula diz num texto de sua autoria, referente a 15 de abril de 1969, publicado no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", o seguinte:

" (...) eis-nos chegados ao aquartelamento do Esquadrão de Reconhecimento AML 2454. Estava ali fazia pouco tempo. Ali, era a meio caminho entre Bula e o lugar onde a estrada de Có ligava a João Landim. Antes, aquele espaço fora ocupado pelo Batalhão de Engenharia que levara a cabo a abertura e  asfaltagem da estrada João Landim-Bula, daí para Có, Pelundo e Teixeira Pinto. 
Terminados os trabalhos, ficando vago o lugar, o comandante do ERec, capitão Manuel Monge, um homem notável que nasceu para comandar sem galões nem gritos, intercedeu junto do General Spínola para que ali deixasse instalar a sua gente.
Moravam entre chapas onduladas de zinco que mal se viam da parada, porque delas separadas, como protecção, por um morro de terra com quase três metros de alto."


Noutro texto de A. Marques Lopes, antigo Alf Mil At Inf (1967/1969) no CArt 1690/CCaç 3, é referido:

"Nos  meados das chuvas de 1967, nos terrenos da Missão, em frente ao aeródromo, instala-se o parque de material para o alcatroamento da estrada Bula-João Landim e Bula-Có. A seguir, em Janeiro-Fevereiro de 1969, os mesmos terrenos foram aproveitados por um destacamento das Panhard. finalmente instala-se lá também o EREC 2641, à falta de melhor."



Passados alguns anos e aquando da chegada do ERec 3432 / 2.ª Fase, em 1972. Sobre a instalação da unidade pouco se sabia, apenas que se devia à "Engenharia", o "luxo" do campo de jogos. Não era um tema fulcral e existiam outras preocupações com o agudizar da guerra.

Mas estou em crer, que as instalações manteriam as caraterísticas anteriores, embora com alguns acrescentos. A simetria das estruturas em chapa de zinco delimitada por velhos bidões cheios de terra que rodeavam a parada, tinha depois exteriormente uma zona de segurança cercada por arame farpado, pela qual  se distribuíam a porta de armas, uma outra de serviço e os postos de vigia.

Em finais de 1973, esta simetria foi quebrada com o início da construção de uma caserna  em alvenaria para as praças, que substituiu o decadente edifício de chapa de zinco que guardava no seu interior o labirinto das "moranças" de esteira onde habitavam, e primeiro edifício da melhoria prevista das instalações da unidade.

Após 1974, todo do "Esquadrão" ficou ao abandono, vandalizado pela população, e com o decorrer do tempo, pouco mais restou do que a caserna que foi erguida, a  antiga rampa de lubrificação e dispersos pelo terreno restos de peças, assim como bocados da Panhard que encimava o monumento aos nossos mortos. E do campo de jogos e dos edifícios apenas um vislumbre do que foram.










QUADRO DA ROTAÇÃO DAS UNIDADES QUE INTEGRARAM O ESQUADRÃO
UNIDADE
UM
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
PRec 1106
RC 7









PRec 2024 (a)
RC 7









ERec 2454/2.ª Fase
RC 7









ERec 2641/1.ª Fase
RC 7









ERec 2641/2.ª Fase
RC 7









ERec 3432/1.ª Fase
RC 7









ERec 3432/2.ª Fase
RC 7









ERec 8740/1.ª Fase
RC 7









ERec 8740/2.ª Fase
RC 7









(a) Considerado a 1.ª Fase do ERec 2454







2 comentários:

  1. "Após 1974, todo o espaço foi alvo de saque pela população, ficando pouco mais do que caserna, oficina de mecânica, restos de peças de motores, rampa de lubrificação e, dispersos pelo terreno, bocados da Panhard que encimava o monumento aos nossos mortos".
    E eu acrescento que lá ficaram ainda os ali gastos longos dias da minha já distante mocidade, assim como de outros camaradas de armas e que hoje, salvo os que já partiram e nos deixam saudades, são agora queridos amigos.

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  2. Ora bem, companheiro Leonel. Deixámos lá alguns dos melhores anos da nossa mocidade.

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