"PROTECÇÃO A UMA COLUNA LOGÍSTICA BULA - CÓ"
Num fluente texto escrito por Raul Albino que foi Alf Mil da CCaç 2402 (1968/1970) e publicado no blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné", este camarada descreve uma operação de proteção a uma coluna de Bula para Có, em que para além de comentários sobre as Panhard, refere a intervenção operacional destas viaturas blindadas no acontecimento.
Entre as várias missões atribuídas ao ERec, estavam as de escoltas a diferentes colunas auto, patrulhamento de itinerários, proteção a trabalhos de construção de estradas, entre outros.
Formação de uma coluna auto junto à Porta de Armas do Esquadrão |
A jeito de introdução o autor apresenta uma apreciação sobre as Panhard e a utilização desta viatura blindada no TO da Guiné, que considera como:
"Além de tecnologicamente ultrapassada, a Panhard era uma viatura blindada que se viria a mostrar completamente inadequada às condições do terreno no TO da Guiné. noutras zonas havia outro de viaturas blindadas, não menos obsoletas e muitas inoperacionais, por falta de peças sobresselentes... O mínimo que se pode dizer é que, no tempo de Spínola, que era da arma de cavalaria, a nossa cavalaria era de opereta!... isto não implica qualquer juízo de menos apreço pela abnegação, competência e valentia dos nossos cavaleiros... Estamos só a constatar um facto: uma boa parte do nosso armamento e equipamento era de ferro-velho..."
Descrevendo a operação, o autor refere que esta se passou no dia 24 de setembro de 1968 e tinha como objetivo montar proteção à coluna de viaturas que se deslocava de Bula para Có, tendo sido escolhido pelos dois pelotões e alguns milícias como local de posicionamento; "(...) o local mais sensível a emboscadas do inimigo, pelas características do terreno cheio de capim e mato, cujo historial antecedente apontava para ser um dos pontos preferidos de ataque do inimigo às nossa colunas." E onde as NT se emboscaram paralelamente ao trilho.
A apreciação que faz do IN é de que este mostrava "especial inteligência para aquele tipo de guerrilha", tendo utilizado no ataque à coluna o "morteiro 60 e armas automáticas ligeiras."
"O engenhoso deste ataque é que devido à grande altura do capim naquela altura do ano, o inimigo conseguiu infiltrar-se entre as nossas tropas de protecção e a própria coluna, iniciando o tiroteio e mudando imediatamente de posição, esperando que a reacção da coluna incidisse sobre a nossas tropas, após a sua rápida retirada desse local."
Esta estratégia teria resultado se a Panhard da frente não tivesse realizado uma manobra de envolvimento, entrando para o interior do mato e "(...) rodando a torre em direcção a mim e aos meus companheiros pronta a fazer fogo. Logo que me apercebi da manobra tive de tomar uma opção arrojada, levantei-me sujeito a ser baleado pelo inimigo, gesticulando para o blindado indicando em que direcção o inimigo estava e para onde devia direccionar o tiro. (...) Para minha alegria a torre voltou a girar agora na direcção correcta e os seus disparos começaram a fazer debandar o inimigo, frustrando-lhes a esperança de verem as nossas tropas aos tiros entre si."
Descrevendo a operação, o autor refere que esta se passou no dia 24 de setembro de 1968 e tinha como objetivo montar proteção à coluna de viaturas que se deslocava de Bula para Có, tendo sido escolhido pelos dois pelotões e alguns milícias como local de posicionamento; "(...) o local mais sensível a emboscadas do inimigo, pelas características do terreno cheio de capim e mato, cujo historial antecedente apontava para ser um dos pontos preferidos de ataque do inimigo às nossa colunas." E onde as NT se emboscaram paralelamente ao trilho.
Esquema do ataque do PAIGC |
A apreciação que faz do IN é de que este mostrava "especial inteligência para aquele tipo de guerrilha", tendo utilizado no ataque à coluna o "morteiro 60 e armas automáticas ligeiras."
"O engenhoso deste ataque é que devido à grande altura do capim naquela altura do ano, o inimigo conseguiu infiltrar-se entre as nossas tropas de protecção e a própria coluna, iniciando o tiroteio e mudando imediatamente de posição, esperando que a reacção da coluna incidisse sobre a nossas tropas, após a sua rápida retirada desse local."
Esta estratégia teria resultado se a Panhard da frente não tivesse realizado uma manobra de envolvimento, entrando para o interior do mato e "(...) rodando a torre em direcção a mim e aos meus companheiros pronta a fazer fogo. Logo que me apercebi da manobra tive de tomar uma opção arrojada, levantei-me sujeito a ser baleado pelo inimigo, gesticulando para o blindado indicando em que direcção o inimigo estava e para onde devia direccionar o tiro. (...) Para minha alegria a torre voltou a girar agora na direcção correcta e os seus disparos começaram a fazer debandar o inimigo, frustrando-lhes a esperança de verem as nossas tropas aos tiros entre si."
O autor narra ainda, ao longo do texto -de que aconselhamos a leitura-, o critério que levou à sua actuação, bem como volta a refletir sobre as condicionantes operacionais e mecânicas das Panhard.
Webgrafia: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/05/guin-6374-p1790histria-da-cca-2402-raul.html
Webgrafia: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/05/guin-6374-p1790histria-da-cca-2402-raul.html
Nota do editor
A transcrição do registo deste camarada, para além do relevo da sua ação e da sua unidade, está em permitir conhecer pormenores do envolvimento das Panhard e lembrar momentos vividos por alguns operacionais do Esquadrão, que pertenceriam ao ERec 2454, através da visão de outro protagonista do mesmo acontecimento.
A opinião expressa sobre as Panhard, é um direito a que não se opõe qualquer juízo de valor. No entanto as páginas deste blogue, fazem justiça à operacionalidade das Panhard. Embora não se possam escamotear os problemas mecânicos que apresentavam, alguns comuns a qualquer viatura e derivados, em grande parte, das condições extremas e continuas em que operavam, permitiram sempre cumprir com as missões que lhes eram atribuídas e acorrer a inúmeras situações envolvendo as NT ou colunas de civis emboscadas pelo IN.
Esta avaliação crítica parece refletir uma visão particular mas pouco sustentada da virtualidade e emprego desta viatura blindada naquele TO, talvez por comparação com outros blindados ligeiros operacionais no terreno, e que se materializou nos contínuos destacamentos por vários pontos da Guiné, tendo o ERec sido reforçado em 1973 com seis Panhard idas de Angola, e mantido a sua operacionalidade até ao fim do conflito
Se na realidade a viatura apresentava alguns constrangimentos relativamente à parte mecânica (e.g. travões, embraiagem...) e sobressalentes disponíveis ou pneus. No geral, a opção pela Panhard mostrou-se uma decisão acertada dada a sua modernidade ao tempo (fora pensada para a guerra da Argélia e passara a equipar o exército francês a partir de 1961), a alta mobilidade e poder de fogo, embora o seu uso em todo-o-terreno fosse condicionado e de algum modo impossibilitado, pelas caraterísticas do relevo da Guiné.
Com as primeiras viaturas a serem recebidas em 1966, eram do pouco equipamento militar a poder ser considerado atual utilizado pelas NT.
Apesar dos ataques diretos, inclusive com RPG's, das viaturas existentes, apenas uma, ficou inoperacional, por ter pisado uma mina com uma roda traseira e empenado o casco, recolhendo ao BSM, secção das Panhard, onde foi canibalizada para peças.
Este acontecimento é aliás referido no livro "Ultrajes na Guerra Colonial" de Leonel Olhero, que diz a certo trecho: "Além, aonde o perigo era maior, o Joaquim apontou uma colossal cratera feita por uma mina que, tempos antes, ceifara uma Panhard, em 24 de janeiro de 1971, e cuja tripulação, comandada pelo furriel Valter Bruno Pastor (...), dali escapou ilesa."
Quanto à reação operacional desenvolvida pela tripulação da Panhard na emboscada que o nosso camarada Raul Albino descreve, ela não terá sido tão meramente de dissuasão como o autor refere, mas decisiva, pois como também diz, ajudou através do fogo das suas armas a por o IN em debandada.
Recordemos que o armamento da Panhard estava instalado numa torre que rodava 360 graus e era constituído por um morteiro 60, com carregamento pela culatra, de disparo tenso ou curvo e duas metralhadoras MAC 7,62mm de alta cadência de tiro.
Este acontecimento é aliás referido no livro "Ultrajes na Guerra Colonial" de Leonel Olhero, que diz a certo trecho: "Além, aonde o perigo era maior, o Joaquim apontou uma colossal cratera feita por uma mina que, tempos antes, ceifara uma Panhard, em 24 de janeiro de 1971, e cuja tripulação, comandada pelo furriel Valter Bruno Pastor (...), dali escapou ilesa."
Quanto à reação operacional desenvolvida pela tripulação da Panhard na emboscada que o nosso camarada Raul Albino descreve, ela não terá sido tão meramente de dissuasão como o autor refere, mas decisiva, pois como também diz, ajudou através do fogo das suas armas a por o IN em debandada.
Recordemos que o armamento da Panhard estava instalado numa torre que rodava 360 graus e era constituído por um morteiro 60, com carregamento pela culatra, de disparo tenso ou curvo e duas metralhadoras MAC 7,62mm de alta cadência de tiro.
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